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Sábado de Carnaval.
Costumava ser o dia da noite de Carnaval. Com o samba da matrafona em Torres Vedras ou com o samba do Rio de Janeiro na Mealhada, havia samba.
Hoje, porém, ficamos em casa.
Sobra-nos o samba da saudade. Sobra-nos o tempo para atualizar o passo a passo da camisola com o nome da saudade, Alice.
Um faz e refaz de experiências e de insatisfação. Busco o ponto certo, as linhas dançam o samba nas minhas mãos.
Às vezes vence-me o cansaço. Já só faço crochet à noite, na ausência dos ecrãs dos dias e, por isso, às vezes, vence-me o cansaço. E há pontos a mais, e pontos que ficam esquecidos e, às vezes, desfaço o trabalho das noites anteriores. Uma e outra vez. Mas não desisto.
E também há vitórias. Efeitos que nascem do samba das linhas.
Vejam só estas mangas. Não estão a ficar maravilhosas, ou sou apenas eu encantada com a criação?
Bom Carnaval e bons pontos!
A camisola que vos desafiei a fazer comigo por estes dias de recolhimento domiciliário começa, enfim, a tomar forma.
Não começo pelo princípio, mas antes pelo fim. Desenho os punhos. Faço um. Fica longo demais. Desajeitado. Rejeito-o e recomeço. O trabalho de croché é este fazer, desfazer e refazer. Como os nossos dias.
O resultado agrada-me, finalmente. Gosto dos punhos mesmo sem a camisola.
Tiro umas fotos, e a miúda lembra-me: "mãe, tens noção de que estás de calças de fato de treino". Hesito. Não estamos todos?
Este é o outfit do meu confinamento. O teletrabalho assim o impõe: blusa de seda para as videoconferências, calças de fato de treino para as imensas horas sentada ao computador. É por aí, como é convosco?
Mas os punhos são quentes e flexíveis, ótimos para que as mãos continuem ágeis sobre as teclas.
Adoro.
Querem fazer uns? Eu explico como já a seguir, mas também podem ver no vídeo que fiz para o canal do YouTube. Vão espreitar e aproveitem e subscrevam o canal 😊.
Esquema :
Início: 30 correntes mais uma para subir, virar o trabalho;
Carreira 1: 30 pontos baixos, virar o trabalho ;
Carreira 2 e seguintes até alcançar o tamanho desejado: 29 pontos baixos apanhados por trás, 1 ponto baixo, virar o trabalho;
Unir as laterais : ponto baixíssimo.
E... tcharã...
Qualquer dúvida, perguntem.
Então, e as linhas de Alice, devem estar a perguntar-se. As linhas de Alice são estas. Uma camisola com o nome da minha mãe. Sinto a falta dela, do seu colo, dos seus abraços, da sua força de guerreira. Também sinto a falta do meu pai, dos seus risos, de teimar com ele qualquer coisa sem importância, das suas ideias fixas, dos seus cautelosos conselhos. E no meio desta separação que se impõe, serve-me de alento saber que estão bem... E dar os seus nomes às coisas que partilham os dias comigo. É esta é a história da camisola Alice...
Bons pontos!
As linhas chegaram e fizeram-me deixar para trás as outras linhas, as dos documentos que tenho de ler, as dos textos que tenho de escrever. As ideias a ganhar às palavras.
Vou experimentando pontos até chegar ao que quero.
Esboço uns rabiscos, na tentativa de representar a imaginação, mas volto as palavras pelo fracasso da experiência : punhos grandes, mangas em balão, num ponto bem apelativo, e top simples e curto.
De seguida, horas de fazer e desfazer até encontrar o tamanho certo, a espessura desejada, os pontos que imaginei. Faço ainda umas experiências com a câmara.
Amanhã haverá vídeo no canal 😊
Estão por aí? Querem fazer esta camisola de confinamento comigo? Já prepararam as linhas?
Por aqui, a cãopanheira garante a segurança das linhas e do caderninho e rabiscos.
Não, não vou infringir as regras, não vou quebrar o recolhimento domiciliário, mas as ideias não as posso prender. Estão em fuga.
Começo, enfim, a lutar contra a espécie de torpor que caiu sobre mim. E é o trabalho, a atividade, a criatividade que me dão alento para reagir. Passo os dias entre as linhas e as teclas e as noites entre as linhas e as agulhas.
O que me deixa verdadeiramente feliz são estes trabalhos que vou terminando. Este colete era para ser um casaco, mas perdi a referência da linha, um terrível erro de principiante que não sei como cometi... Mas o resultado é brutal.
Não acham? Eu gosto mesmo de roupa em croché. Há nas peças feitas à mão requinte com um toque de magia. A magia das linhas. A metamorfose das linhas.
Então, lembrei - me e que tal se eu partilhasse um momento de criatividade com o mundo cibernáutico? E se eu mostrasse como acontece? Aqui está uma excelente ideia para fugir ao recolhimento domiciliário. Fazer uma camisola em crochet. Pensem nas linhas. Eu já encomendei as minhas. Amanhã faço um esboço. Tem de ser algo muito simples, com mangas bem largas, talvez em balão - estou tão apaixonada por mangas em balão - e justa no corpo. Os pontos serão básicos para que muitos me possam acompanhar. Vou escrevendo no blog. E vou fazendo vídeos para deixar no YouTube.
Primeiro passo: escolher as linhas.
Faltam 10 dias.
Apanhada pelo peso do recolhimento domiciliário e pela sua constatação de que, afinal, dificilmente consigo reunir força para ler os papers académicos que se acumularam na secretaria, ou para elaborar documentos, e trabalhos para a escola, ou até para as arrumações das gavetas que me tinha prometido, sobra-me a criatividade. A vontade de criar obriga-me a vasculhar as malas das linhas. Encontro mil e um trabalhos inacabados, projetos, ideias. Talvez termine algum...
Entretanto, perdi-me de amores por este motivo de flores (ponto puff) com teia de pontos altos, pontos baixos e correntes. Gravei este vídeo que podem consultar no canal.
E como as linhas são apenas sombras que fui acumulando, aproveito para experimentar cores, e combinações...
Deparei-me com estas linhas. Talvez ganhe coragem para as desembaraçar e metamorfosear em algo belo. Quem sabe?
Bons pontos.
Percebemos que mudámos. Não somos já os mesmos. Tentamos ainda, num último esforço, parecer os mesmos, retomar as mesmas atividades, mas com cautelas redobradas, as máscaras já a partilhar o toucador com a base, o rímel, o blush... a esconder os batons que foram perdendo a validade.
E havia sol a brilhar em janeiro e acreditámos, mesmo, mesmo, que os números no ecrã da televisão eram apenas números. Até havia sol a brilhar...
Mas veio a chuva e, com a chuva, percebemos que somos prisioneiros nas nossas casas, prisioneiros de um vírus que mata e é cruel porque nos muda.
E eu, que não sou, nem nunca fui de saudades, defino de saudades das minhas pessoas e dos meus momentos com elas.
Embrulho-me no xaile da minha mãe. Sinto o aconchego. Imagino-me perto dela, e ouço claramente a sua voz e o riso a querer esconder-se do meu pai, que um pai não ri assim descaradamente, só o avô, o avô, sim, pode rir. E, por instantes, sinto as mãos grossas da minha mãe a tecer as linhas dos meus dias.
Decido, assim, embrulhada pelas saudades que farei também eu um xaile para a minha mãe.
No outro dia vi um vídeo em que, no final se legendava "Não conte os dias; faça com que os dias contem".
E eu encontro sempre beleza nas palavras, quando elas tocam os meus dias.
Vem isto a propósito do trabalho que tenho andado a fazer. Uma bailarina.
Apaixonam-me os detalhes. E a vida refletida nos meus pontos. Nesta imagem, as flores são dos "meus" caminhos; a toalha de renda branca no estendal, a lembrar as ausências de uma Páscoa que passei pela primeira vez em minha casa; o café para me lembrar de marcar o fim do trabalho que agora se estende pelos tempos e rouba tempo a outros tempos; e a bailarina a gritar-me que ainda não é tarde para dançar. Nunca é tarde para dançar.
E o que é que isto tem a ver com o contar dos dias?
Tudo. Passou um mês desde que estou fechada em casa.
O balanço de um mês. O balanço de uma vida. E se isto não acabar? E se se prolongar pelos dias? Pelos meses? Pelos anos?
Há dois pensamentos que me têm perseguido. Primeiro, num jogo de família em que se diz a primeira palavra que associamos a uma pessoa, o meu filho (na segunda volta) à pessoa "mãe" responde "escritora", e eu nunca publiquei um livro...
Segundo: nunca aprendi a dançar. E adoro dançar! Danço de coração, de vontade, com a alma toda, mas nunca aprendi a dançar.
Talvez seja a hora.
São estas as coisas pelas quais poderei dizer que estes dias contaram: decidir publicar o meu livro. Aprender a dançar.
Conhecem a história da formiga e da cigarra? Sou só eu que imagino quão maravilhosa passa a ser a vida da cigarra, inverno corrido, quando a formiga a manda dançar?
Sim, há qualquer coisa de extraordinário na fala da formiga "Cantaste durante o verão? Então, agora, dança!" Ora, lição de moral à parte, pois toda a gente sabe que a cigarra sempre arranja quem lhe pague um lanchinho para a ouvir cantar, é notório o tom invejoso da formiga que, tristemente, passou o verão a trabalhar.
E a cigarra, artista e criativa, deve ter visto ali uma oportunidade extraordinária para se lançar noutro ramo do espetáculo.
Assim decorrem as nossas vidas. Transformamos obstáculos em oportunidades.
Além disso, por cá, adoramos dançar!
Quem segue o Outro lado do crochet sabe como sou adepta de recomeços, e não necessariamente recomeços de início do ano, mas também dos do início do ano. Esses acabam por significar que o tempo é já de mudança e, por isso, fazem mais sentido, com hora marcada. Para começar só é preciso isso mesmo, começar. Foi por isso que decidi juntar-me ao editor da casa e dar vida ao canal o Outro lado do crochet. Mas sabem o que é melhor? Não abandono o blog. Pelo contrário.Tentarei reforçar todas as publicações no youtube, com as explicações aqui no blog.
Vídeo #1. COMO COMEÇAR CROCHÉ?
Neste vídeo explico o passo a passo para iniciar trabalhos em croché. Essencialmente, existem dois métodos distintos para começar: em correntinhas, mais indicado para trabalhos em carreiras; e o anel mágico, muito utilizado em amigurumi, e que deixarei para outro vídeo.
Neste vídeo mostro como segurar a linha, como fazer o ponto inicial e como fazer correntinhas. Aproveito, também, para mostrar como fazer uma pulseira apenas com o ponto correntinha, utilizando missangas na linha.
Primeiro: segurar a linha.
De seguida, fazer o ponto inicial:
passar a agulha debaixo da linha
dar uma volta completa na agulha
passar de novo a agulha debaixo da linha e puxar por dentro da argolinha
e...tcharã... o primeiro ponto fica pronto!
Depois, é seguir o mesmo esquema para fazer correntinhas, saltando a volta da agulha, essa não é necessário fazer
E seguir com as correntinhas:
se quisermos adicionar uns pós de criatividade, puxamos as missangas, que tivémos o cuidado de enfiar na linha antes de começar o trabalho, e fazemos a correntinha, na linha logo após a missanga. Fácil, fácil. Qualquer dúvida, espreitem o vídeo .
E eis o resultado final, uma pulseira, um colarzinho, um laço para um embrulho, um alfinete, um adereço... enfim, um mundo de possibilidades!
Bons pontos!
O final de 2019 aproxima-se vertiginosamente. Olho para trás e vejo as mil coisas que deixei por fazer, mas delicio-me também com as muitas outras mil que consegui terminar. Barreiras ultrapassadas, dores, lágrimas, mas muitos momentos bons de gratidão. Aos meus amores, à família, aos amigos e a está sublime oportunidade de viver.
Novos desafios lanço a mim mesma para 2020. Alguns falam ao ouvido deste blog. Em surdina. Quero fazer qualquer coisa com esta criatividade que toma conta das minhas mãos.
Por agora, vou treinando nos detalhes. Preparem -se, porém.
2020 vai ser um ano fantástico!