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Às vezes, muitas vezes, até eu desconfio de como consigo roubar assim tempo ao meu tempo. Mil coisas para fazer e as ideias não me deixam. Um tecido antigo, um pouco de acolchoado, linhas e uma máquina de costura. Lá fora ouço a cadela ladrar.
O resultado foi o esperado, mas a filhota avisa "Tens noção de que ela vai destruir isso tudo, não tens?" Uma sombra cai sobre o meu sorriso.
Sim, bem sei que ela é uma cachorrinha ainda, mas a danadinha não se habitua a nenhuma cama... Experimento, e leio-lhe a reação. "Foi isso que estiveste a fazer? E serve para quê? Posso comer? Posso cheirar? Hummm... cheira a ti...
E também posso entrar... Está tão quentinho aqui dentro, parece mesmo o teu colo...
Isto é muito bom! Olha, já não vou sair... fico aqui! Deixas? Deixas?"
Talvez amanhã só haja farrapos a decorar a casa, como vem sendo hábito, mas hoje ela está lá... ainda. Não quer sair e ainda não roeu nada. Talvez seja um bom sinal. Quanto a mim, estou preparada para a máquina de costura e as experiências de decoração que quero fazer :-D. Por outro lado, tenho um monte de roupa para passar, que sobrou do tempo que roubei ao tempo.
... aqui, deste lado do crochet.
Fui às compras. E, claro!, foi uma aventura inacreditável.
Fui a medo, com a filha atrás, caso precisasse de desculpa para fugir de mansinho. "Filhota, não estás cansada? Não queres comer nada? Não é melhor deixar para amanhã?" Sim, sim, o melhor dia para ir às compras é sempre amanhã, pensei ao entrar no cento comercial.
Entrei na primeira loja. Passar de olhos apressado, corro para a porta. O melhor é começar pelas roupas dos miúdos, desculpo-me.... Mas duas lojas depois, as compras para eles estavam feitas e o assunto resolvido.
Recomeço a percorrer a loja à procura de roupa para mim. Percebo que trazer a miúda foi um erro, pois, afinal, parece que durante as férias se enamorou por esta coisa de ir às compras e só quer ir experimentar roupa. Digo-lhe para ir, enquanto o desalento parece ter já tomado conta de mim. Tenho de fazer compras.
Percebo que estou já meio desconcertada no momento em que me cruzo com uma colega da escola e me lamento profundamente por ter de andar às compras. Ela diz-me que é preciso, que nos faz bem vir às compras, e isso desconcerta-me ainda mais. Desejo a sério que me fizesse bem ir às compras, mas não, não acontece nada. Fico a olhar para a R. , a minha colega-amiga e penso que ela é pessoa de gostar de andar às compras, anda sempre tão bem vestida, talvez devesse pedir-lhe ajuda... e ela me selecionasse duas ou três blusas, dois ou três básicos e mais qualquer coisa. Mas não tenho coragem. Afinal, andar às compras é tão mau... Como é que eu posso pedir a alguém para me ajudar?
Despedimo-nos, e é no momento em que eu entro nos provadores que acontece a coisa mais extraordinária que podia acontecer-me. Há uma mulher linda, elegantíssima, daquelas que enchem todo o ar do sítio onde estão, a entrar à minha frente. Deve ter 1,75 m, os olhos azuis e usa uma roupa linda...
Entramos nos provadores e, quando saímos, temos o mesmo top vestido. Adoro as calças que ela experimenta e, enquanto a espreito pelo canto do olho, ela diz-me que trouxe uma iguais às que eu tenho vestidas para experimentar e pede-me logo a opinião. Adora ver-me o top, adora ver-se no top. Comenta os gostos parecidos e, de repente, estamos a trocar a roupa que trouxemos. "Experimente esta blusa com essas calças e passe-me o seu body para eu experimentar..." E , de repente, está a dizer-me o que já comprou, o que já escolheu, isso fica bem, isso nem por isso... E, de repente, "vou buscar-lhe um igual ao meu para experimentar", e sai do provador e vai procurar o meu número e traz já noutra cor para ela também...
Inacreditável! No momento de pagar lamentei mesmo não gostar de ir às compras, porque, se gostasse, esta brasileira ia ser a minha melhor amiga de ir às compras. Claro que com a minha terrível inaptidão para estas relações sociais, acabei por não saber o nome da mulher que me escolheu toda a roupa que eu trouxe, que sabe o meu nome e, até, pasmem!, a minha data de nascimento. Eu, dela, sei que é brasileira, linda, com um corpo de modelo, e que vai para o Brasil no dia 10 de outubro...
O que é que isto tem a ver com o crochet? Bem, tudo! É o outro lado do crochet!
Trouxe no coração mil ideias para juntar às minhas roupas novas!!!
... aqui, deste lado do crochet.
Quando, na hora de regressar ao serviço, abres as portas do guarda-roupa e percebes que a tua aversão por compras pode estar a tornar-se um problema, porque a tua roupa tem anos, está gasta e se confunde com alguns panos do pó, só pensas na urgência de renovar, renovar, renovar. Perco-me na palavra. perco-me sempre nas palavras. Renovar é tornar novo. Novo outra vez!
Fujo à ideia aterradora da necessidade de ir às compras e refugio-me, hoje, é só hoje, amanhã prometo que vou às compras, refugio-me nas paixões.
Coloco de parte a roupa que era preta e está cinzenta, junto-lhe a que não uso há mais de três anos... têm um caminho ainda pela frente.
Descubro roupas que não uso, um vestido curto demais, uma blusa larga demais, uma saia florida demais... adoro ver as minhas mudanças espelhada nestas roupas que não uso. Adoro mudar! E, nesta fase louca de fim (todos os fins são recomeços!), uma blusa com a história de um casamento, uma blusa linda demais para um casamento, com as costas expostas demais para todos os dias, sou assaltada por aquele sentimento bom do recomeço! Percebo, enfim, o que farei com a mandala que nasceu nos meus dias de férias tão cheia de destino incerto.
Entusiasmo-me! As ideias fervilham, as mãos agitam-se e tenho consciência de que a noite só terminará quando o resultado me satisfizer. Ontem foi assim...
Hoje há Jornadas Psicopedagógicas... assim...
É bom começar, recomeçar... É bom renovar, fazer novo... outra vez!
...aqui, deste lado do crochet.
O outro lado do crochet esteve de férias. O outro lado do blog, não o do crochet!Já perceberam como é difícil separar-me do meu crochet...
As mãos continuaram, irrequietas e criativas, mas a vida lá fora, fora do ecrã, fora das redes, é TÃO melhor do que este outro lado virtual!
O meu projeto de verão foi esta transformação de uma seirinha simples e banal, numa seira toda minha, única e diferente!
Aqui, é já no regresso a casa... é bom regressar!
Mas, durante as férias foi companheira de escrita, de leitura, de crochet e muita preguiça!!
Recomeço, pois, cheia de ideias na alma e vontade nas mãos. Gosto de recomeços. Não os recomeços de segunda-feira, ou de um de janeiro ou do dia depois das férias. Gosto dos recomeços hoje. Quando o tempo para recomeços se me oferece. Agora!
...aqui, deste lado do crochet!