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Percebemos que mudámos. Não somos já os mesmos. Tentamos ainda, num último esforço, parecer os mesmos, retomar as mesmas atividades, mas com cautelas redobradas, as máscaras já a partilhar o toucador com a base, o rímel, o blush... a esconder os batons que foram perdendo a validade.
E havia sol a brilhar em janeiro e acreditámos, mesmo, mesmo, que os números no ecrã da televisão eram apenas números. Até havia sol a brilhar...
Mas veio a chuva e, com a chuva, percebemos que somos prisioneiros nas nossas casas, prisioneiros de um vírus que mata e é cruel porque nos muda.
E eu, que não sou, nem nunca fui de saudades, defino de saudades das minhas pessoas e dos meus momentos com elas.
Embrulho-me no xaile da minha mãe. Sinto o aconchego. Imagino-me perto dela, e ouço claramente a sua voz e o riso a querer esconder-se do meu pai, que um pai não ri assim descaradamente, só o avô, o avô, sim, pode rir. E, por instantes, sinto as mãos grossas da minha mãe a tecer as linhas dos meus dias.
Decido, assim, embrulhada pelas saudades que farei também eu um xaile para a minha mãe.